ATALHO
As palavras, como as lamentações, nascem e
morrem entre a névoa da manhã e a luz dourada de um fim de tarde outonal. Mas é
junto às muralhas da nossa própria cidade que ritualizamos as orações e os
lamentos da memória. Por isso ninguém escuta estas orações dos sentidos em
redor do corpo e do tempo.
Assim, que religião diviniza os segundos
que sofremos em busca de uma outra cidade perdida entre anseios e devaneios?
Secreta é a oração que alimenta o rosário de tais emoções! E quantas sensações
comemoramos neste silêncio, quando as mãos se encostam às muralhas das
recordações e adiam a conquista da cidade adormecida no regaço da noite!
Como continuar a escalada de barbacã, se
os sentidos e as palavras e os sentidos das palavras são as únicas armas de que
dispomos para o cerco da cidade?
Augusto Mota, texto 94 de «A Geografia do Prazer», 1999
- Exaltação do corpo em viagem pelos continentes da memória.
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