quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A Geografia do Prazer



ATALHO

As palavras, como as lamentações, nascem e morrem entre a névoa da manhã e a luz dourada de um fim de tarde outonal. Mas é junto às muralhas da nossa própria cidade que ritualizamos as orações e os lamentos da memória. Por isso ninguém escuta estas orações dos sentidos em redor do corpo e do tempo.

Assim, que religião diviniza os segundos que sofremos em busca de uma outra cidade perdida entre anseios e devaneios? Secreta é a oração que alimenta o rosário de tais emoções! E quantas sensações comemoramos neste silêncio, quando as mãos se encostam às muralhas das recordações e adiam a conquista da cidade adormecida no regaço da noite!

Como continuar a escalada de barbacã, se os sentidos e as palavras e os sentidos das palavras são as únicas armas de que dispomos para o cerco da cidade?


Augusto Mota, texto 94 de «A Geografia do Prazer», 1999


- Exaltação do corpo em viagem pelos continentes da memória.

Sem comentários:

Enviar um comentário